quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Findhorn

Estamos já há quase 2 semanas em Findhorn, e a experiência aqui é tão intensa que não sobra muito tempo para escrever e compartilhar...
Nós fizemos um seminário de 1 semana chamado Prática Espiritual, e nossa focalisadora é uma pessoa super sensível e de coração aberto. Saímos algumas vezes para fazer meditações na natureza, e foram muito bacanas. Tivemos momentos de dividir (Sharings) o que cada um estava sentindo muito bonitos e profundos, e aprendemos com o que cada pessoa está vivendo. Na semana passada, eu trabalhei 4 manhãs cuidando da casa, limpando física e energeticamente o lugar em que estamos.
Eu tenho participado de uma meditação linda que é feita de cantos da comunidade de Taizé, lindos! Formamos um coro com quantas pessosa quiserem cantar naquele dia, e cantamos com a voz e o coração, dentro de um santuário lindo.
Na última 2a feira, começamos um programa que dura 1 mês e que é menos estruturado, tem menos encontros de grupo, e mais trabalho. Antes de começar, nós nos "afinamos" com um departamento de trabalho que tem mais a nos enriquecer no momento, uma forma de escolha mais intuitiva do que racional. Eu me conectei com o departamento de manutenção !!! e o Beto com a horta. São 7 meios-períodos de trabalho por semana, mais os sharings e attunements em grupo, o que me deixa 1 tarde livre, que é hoje, e os finais de semana para descansar.
Trabalhar em Maintenance tem sido muito interessante, pois eu nunca antes tinha consertado praticamente nada, já que no Brasil nós chamamos especialistas para tudo. Aqui eles consertamo tudo sozinhos, a menos que seja algo muito sofisticado, grande ou difícil, quando então alguém de fora é contratado. Eu já fiz trabalho de impermeabilização no telhado de uma "casa", que é a caravan original, onde os criadores de Findhorn moraram quando chegaram aqui. Hoje ela é um escritório lindo por dentro, mas eu me senti tão honrada de estar consertando este espaço histórico daqui! E vi que é fácil para mim trabalhar no telhado, com todos os cuidados necessários, claro!
Eu também consertei torneira, usei furadeira, vedei burado, lixei parede para ser pintada, tudo isso em 3 dias de trabalho! Até ensinei 2 pessoas que estão aqui pela primeira vez a lixar a parede. Aqui, todos estão ensinando e aprendendo ao mesmo tempo. Agora o mais rico com minha equipe de trabalho foi ontem a tarde, quando fizemos o sharing, que cada um contou o momento que está vivendo, suas questões, as dificuldades, as alegrias... Um departamente em que só tem eu e mais uma mulher, de repente se enchendo de assuntos de emoção, foi muito bonito! Eu fiquei muito feliz! Isso é o que me alegra tanto de estar aqui passando este tempo.
Anteontem, nós tivemos uma sintonização para definirmos um própósito para nossa estadia aqui, e eu cheguei è seguinte intenção:
"Eu tenho a intenção de estar mais presente no coração do meu Ser Superior, do meu Inner Self."
Esta intenção é muito forte para mim, pois quando estou mais centrada, as dificuldades do dia-a-dia parecem fáceis, nada me perturba tanto, e eu posso aproveitar o que é realmente importante. Também me ajuda nas decisões que tenho que tomar, e está é uma lição para toda vida!

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Sokyrianyi – Ucrânia

Estamos hospedados em uma cidade turística no sul da Ucrânia, chamada Kamianets’ Podil’s’kyi. A cidade é uma graça, mas o motivo da nossa vinda até aqui é conhecer Sokyrianyi, cidade já na fronteira com a Moldávia, região antes chamada de Bessarábia, onde algumas pessoas da minha família nasceram, viveram e morreram.

  • · Aqui nasceu Frida Fainbaum em 1902, mãe de minha avó Rivinha. Ela tinha 3 irmãos mais novos e sua mãe morreu cedo. Assim, o pai deixou ela, com aproximadamente 10 ou 12 anos - e os irmãos com uma parenta em Brichany - cidade próxima mas já na atual Moldávia – enquanto foi ver como era o Brasil para então levar sua família. Em 1915 (aproximadamente), foram para o Brasil, onde a Frida casou com o Favich e passou a chamar-se Frida Malay.
  • · Menicha Berezovski, mãe da Clara minha Bisavó, faleceu em Sokyrianyi em 1904, pouco depois de ter dado a luz à Clara, em Vyzhnitsia, ou em Vinnitsia, não sabemos bem.
  • · A minha Bisavó Clara Berezovski nasceu em 22/04/1904 em Vyzhnitsia, cidade a aproximadamente 300 km de Sokyrianyi, e viveu em Sokyrianyi até aproximadamente 1919, depois da primeira guerra, quando foi para o Brasil. Ela se casou com o Moisés, que nasceu em Raspopem, perto de Kishinev, na Moldávia, passando a se chamar Clara Rechulski.

Eu e o Beto fomos para Sokyrianyi com um taxista e um tradutor que falava inglês, além de russo e ucraniano. A viagem foi uma visita ao passado. Hoje Sokyrianyi tem aproximadamente 10.000 habitantes e nós viramos atração, com nossa busca por informação. Hoje não há mais judeus vivendo por lá. Muitos saíram depois da primeira guerra para Israel, França, Brasil, Alemanha, entre outros. Muito foram perseguidos na 2ª guerra e dos que sobreviveram, a maioria foi para Israel após a segunda Guerra. Alguns poucos ainda viveram aqui até décadas posteriores.

Fomos visitar o cemitério israelita, e encontramos um cemitério abandonado. Por sorte nosso tradutor encontrou o senhor que toma conta de alguns túmulos de pessoas que lhe confiaram o serviço. Ele toma conta do “cemitério novo”, uma parte do cemitério em que as pessoas enterradas faleceram mais recentemente, depois de 1960. As lápides desta parte são todas escritas em russo, e algumas poucas têm também algumas palavras em hebraico. A parte do “cemitério antigo” tem muitos arbustos crescendo, mato, algumas flores silvestres, a natureza é quem está tomando conta. As lápides estão em Hebraico. Algumas lápides estão quebradas e muitas conseguimos chegar perto de tão fechada que está a “floresta”. A imagem foi bastante desoladora.

Depois eu e o Beto ficamos refletindo sobre este abandono e lembramos que as pessoas que saíram da região não podiam voltar durante o regime soviético. Ninguém podia vir de fora visitar parentes. E depois da perseguição da 2ª guerra e do regime soviético, as pessoas ainda vivas talvez nem tenham idade para voltar para esta cidadezinha. Dessa forma, a parte antiga do cemitério está abandonada há pelo menos uns 60 anos. Eu tentei ler as lápides para ver se encontrava a minha Tataravó Menicha, ou alguém Berezovski, com o meu parco conhecimento de hebraico, mas não achei nada.

Buscamos então o arquivo da cidade, para tentar levantar alguma informação sobre Frida Fainbaum, Menicha Berezovski ou ainda Schwarcz, da da família da Eva Ocougne, mas ninguém sabia de nada. O que nos disseram é que em 1944, durante a 2ª guerra, houve um incêndio, que queimou os arquivos anteriores a esta data.

Uma coisa que descobrimos é que há uma pessoa nascida em 1928 em Sokyrianyi, chamado Michail Stivelman, - que foi morar na França em 1946 e depois no Rio de Janeiro, no Brasil, que estava escrevendo a história dos judeus de Secureni, ou Sokyrianyi. Ele até propôs que se fizesse um monumento aos judeus mortos no holocausto, próximo ao monumento dos soldados que morreram na guerra. Parece que este monumento ainda está para ser construído. Seria interessante sabermos se o Michail ainda mora no Brasil, e o que ele tem de informação. Também seria interessante eventualmente procurar outros judeus pelo mundo que saíram de Sokyrianyi para ajudar a preservar o cemitério e a memória.

De qualquer forma, a vida dos judeus nesta região no último século não foi fácil, e ficou muito claro para mim que meus Bisavós e meus Avôs fizeram uma ótima escolha decidindo ir para o Brasil, onde suas famílias puderam prosperar e viver num ambiente mais aberto para a prática de diversas religiões.

Sobre a economia e política da Ucrânia e da Moldávia

Os dois países ficaram independentes da União Soviética em 1991, com o colapso da USSR. Havia uma expectativa de que simplesmente sair do jugo da Rússia levaria estes países para um modelo de desenvolvimento capitalista, e que a vida melhoraria consideravelmente. Porém, são países pobres – especialmente a Moldávia – e com uma democracia muito recente.

Os jovens têm muita educação, mas poucas oportunidades de trabalho. Sonham em obter uma nacionalidade européia, então muitos querem que a Ucrânia e a Moldávia se juntem à União Européia. Mas há uma parte das pessoas que acredita mais na igualdade entre as pessoas promovida pela USSR, e querem voltar a ter políticas russas implementadas por aqui. Esta é a principal tensão política: pró-Rússia ou pró-ocidente.

Nas regiões do norte e leste (mais próximas da Rússia), se fala Russo como primeira língua, e concentra a maior parte das pessoas pró-Rússia. Já no sul e no oeste se fala Ucraniano como primeira língua. Vende-se uma camiseta na rua que diz assim: “Graças a Deus eu não sou pró-Rússia”. É uma sociedade bastante dividida nesse momento.

A Rússia é uma ameaça permanente. Durante a URSS a Rússia doou uma região chamada Crimea para a Ucrânia, pois nunca imaginaram que haveria o colapso do sistema socialista. Com a independência da Ucrânia, o território passou a ser reivindicado pela Rússia, mas a Ucrânia não o pretende devolver.

Durante o regime socialista, as crianças e jovens ucranianos eram proibidos de falar ucraniano na escola, tinham que falar russo. Uma violência cultural. Muitas igrejas foram destruídas pela URSS. Hoje, tanto na Rússia como na Ucrânia vimos uma forte religiosidade nas pessoas. Muitos freqüentam as igrejas, usam o símbolo da cruz no pescoço, etc.

A tentativa de ir para a Moldávia

Nós queríamos ir para a Moldávia, terra onde nasceu meu Avô Michel, seus pais, o meu Bisavô Favich, e onde outras pessoas da família nascerem, em Kishinev, Brichany e Edineti.

Não sabíamos, mas para ir para a Moldávia, o brasileiro precisa ter uma carta convite oficial para então ter o visto. Esta carta oficial pode ser conseguida pela equipe do www.visatorussia.com, mas leva 22 dias e custa 250 dólares. Nós descobrimos isso um pouco tarde demais, então não será desta vez que visitaremos a Moldávia.