quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Findhorn
terça-feira, 4 de agosto de 2009
Sokyrianyi – Ucrânia
Estamos hospedados em uma cidade turística no sul da Ucrânia, chamada Kamianets’ Podil’s’kyi. A cidade é uma graça, mas o motivo da nossa vinda até aqui é conhecer Sokyrianyi, cidade já na fronteira com a Moldávia, região antes chamada de Bessarábia, onde algumas pessoas da minha família nasceram, viveram e morreram.
- · Aqui nasceu Frida Fainbaum em 1902, mãe de minha avó Rivinha. Ela tinha 3 irmãos mais novos e sua mãe morreu cedo. Assim, o pai deixou ela, com aproximadamente 10 ou 12 anos - e os irmãos com uma parenta em Brichany - cidade próxima mas já na atual Moldávia – enquanto foi ver como era o Brasil para então levar sua família. Em 1915 (aproximadamente), foram para o Brasil, onde a Frida casou com o Favich e passou a chamar-se Frida Malay.
- · Menicha Berezovski, mãe da Clara minha Bisavó, faleceu em Sokyrianyi em 1904, pouco depois de ter dado a luz à Clara, em Vyzhnitsia, ou em Vinnitsia, não sabemos bem.
- · A minha Bisavó Clara Berezovski nasceu em 22/04/1904 em Vyzhnitsia, cidade a aproximadamente 300 km de Sokyrianyi, e viveu em Sokyrianyi até aproximadamente 1919, depois da primeira guerra, quando foi para o Brasil. Ela se casou com o Moisés, que nasceu em Raspopem, perto de Kishinev, na Moldávia, passando a se chamar Clara Rechulski.
Sobre a economia e política da Ucrânia e da Moldávia
Os dois países ficaram independentes da União Soviética em 1991, com o colapso da USSR. Havia uma expectativa de que simplesmente sair do jugo da Rússia levaria estes países para um modelo de desenvolvimento capitalista, e que a vida melhoraria consideravelmente. Porém, são países pobres – especialmente a Moldávia – e com uma democracia muito recente.
A tentativa de ir para a Moldávia
Nós queríamos ir para a Moldávia, terra onde nasceu meu Avô Michel, seus pais, o meu Bisavô Favich, e onde outras pessoas da família nascerem, em Kishinev, Brichany e Edineti.
sexta-feira, 31 de julho de 2009
Kiev - a capital suave
A cidade de Kiev nos trouxe uma tranqüilidade diferente de Moscow e São Petersburgo, que são bastante agitadas. Aqui as ruas e avenidas são movimentadas, mas as calçadas são largas, há muitos lugares bonitos para passear e o transporte público funciona. As pessoas são mais tranqüilas que os russos. São mais relaxados na roupa, nos costumes, no jeito de tratar, gostam muito de ajudar. Parecem mais com os brasileiros, neste sentido.
domingo, 26 de julho de 2009
Kiev - memórias ou novidades?
Moscow - passeio e entrevistas
terça-feira, 21 de julho de 2009
Moscow – 21 de julho de 2009
Chegamos em Moscow, que fica a só 1:30 de avião de São Petersburgo, numa jornada que começou saindo da casa da Anna às 9:30 e chegando na casa da outra Ana às 23:30. Nosso avião atrasou, e a Ana de Moscow só sairia de sua aula de espanhol (!) às 22hs, então ficamos esperando por ela num café no centro. Quem nos colocou em contato com a Ana foi a Marina Tenório, amiga do Fê Vilela, que tem uma amiga em comum com ela. Ela fala espanhol muito bem e temos falado mais em espanhol do que em inglês. Ela trabalha em casa e tem sido um amor nos recebendo e oferecendo tudo o que podemos precisar. Ela é artista e sua casa é um pouco diferente da da outra Anna: não tem sala e tem uma decoração diferente em cada cômodo. Estamos dormindo no quarto dos seus pais, que estão no sítio. (Dacha).
Andamos já bastante de metrô por aqui, e para isso, nossa capacidade de entender um pouco do alfabeto cirílico tem se aprimorado muito. Eu me sinto como uma criança que anda na rua lendo tudo quanto é placa, para ver se consigo ler. Ontem, nossa anfitriã Ana foi nos buscar no metrô e, pela primeira vez, ela tomou o metrô para o lado errado.
São Petersburgo – 20 de julho de 2009
Estamos saindo de São Petersburgo, depois de 5 dias muito gostosos aqui. Nós ficamos hospedados na casa da Anna, que é filha de um casal que é amigo da prima da Maria Helena que é mãe dos meus primos Flavinha e João. A Anna também estava recebendo outras 2 pessoas pelo Couchsurfing, já que seus pais estão viajando. Ela foi super simpática, e além de nos dar várias dicas de o que fazer, como chegar nos lugares, foi também conosco passear pela cidade. Os dias estavam lindos, ensolarados, com calor de mais de 25 graus. À noite o sol se punha depois das 22hs, e só ficava escuro mesmo depois da 1:30 da madrugada, e só por 1 hora, mais ou menos. Dá pra aproveitar e passear bastante assim! Passeamos de barco; subimos no Colonade, de onde dá pra ver toda a cidade; nos admiramos com a igreja da Ressurreição e seus mosaicos MARAVILHOSOS! São tão coloridos, mostram muitas imagens bíblicas, e não valorizam tanto o sofrimento como as igrejas católicas. As cores são alegres; tem muitas flores e plantas. Que riqueza de detalhes! Estivemos no Hermitage vendo a imensa coleção de arte do mundo todo, especialmente européia, que eles têm. Passeamos muito a pé, e para vir e voltar da casa da Anna, usamos o metrô.
O apartamento da Anna deu um pouco de idéia de como vive uma pessoa de classe média em São Petersburgo. 2 quartos, uma sala, uma cozinha pequena que é também onde se come, com uma mesa para 3 pessoas ou mais, se se afasta ela da parede. A pia não é muito grande, e não tem muito onde apoiar coisas para picar etc, então tem-se que ser muito prático e eficiente, e já lavar tudo o que acabou de se usar, rapidamente. A máquina de lavar roupa fica na cozinha (como na Europa, em geral), e ela também é secadora, para os dias em que não dá pra secar no varal. O banheiro é dividido em 2 partes: uma é onde fica a privada – das pessoas e também do gato, que tem suas caixas/banheiro ali também. A outra é onde fica a banheira com chuveiro. Tem uma varanda, e no caso da casa da Anna, uma vista linda para um parque. Tira-se o sapato para entrar em casa. Ela tem um computador na sala de casa com uma boa conexão à internet, mas é um computador para toda a família, e não tem wireless.
A Anna casou-se com 22 anos e aos 25 se divorciou. Ela disse que 22 é a idade em que as mulheres casam, em geral; que elas têm filhos aos 23, e que com 25 muitas se separam. Ela não teve filhos. Pela tradição local, espera-se 1 ano depois de decidir se separar para de fato se divorciar, para que o casal reconsidere se é o caso de voltar a ficar juntos. A mãe da Anna, Galina, é Bahai de religião, e a Anna gosta muito da linha espiritual deles, já foram até para Israel fazer uma peregrinação Bahai.
Pudemos conhecer bastante da vida de uma russa jovem, conversando com a Anna, que fala inglês muito bem.
As coisas aqui são um tanto caras para os brasileiros. Por sorte nós temos hospedagem de graça, mas comer fora é bastante proibitivo, então tentamos fazer sanduíches e levar conosco no dia, sempre que possível. Um lanche rápido na rua pode custar facilmente 20 reais por pessoa! Às fezes encontramos refeições boas por 20 reais, mas em geral elas custam mais caro...
Entrevistas em Samara - Finca Rússia
Uma é dona de 6 mercados de bairro, tendo começado com um mercadinho bem pequeno, quando se divorciou, e tinha 2 filhas pequenas. Começou sem ajuda nenhuma da família, mas com um crédito extorsivo de algum agiota. Depois que encontrou a Finca, começou a ter crédito mais sustentável, e conseguiu expandir o negócio. Hoje tem 23 funcionárias.
A outra tem uma fábrica de Pelmeni, um ravióli delicioso de carne, muito tradicional daqui. Ela tem 6 ou 7 funcionárias, compram carne dos vendedores da região, e vendem Pelmeni nos mercadinhos também da região. A tradutora foi super importante, pois as clientes não falavam nada de inglês, e nós, nada de russo. O trabalho dessa mulher, deriva muito do papel da Babushka russa, da avó que cozinha pelmeni para seus filhos e netos, algo que pode levar horas, e que a princípio todas as mulheres russas sabem fazer. Ela levou esta habilidade feminina para seu empreendimento, trabalha entre mulheres, nutrindo outras pessoas e gerando renda para sua família, nutrindo-se e nutrindo sua família desse outro jeito também. E está muito realizada, pelo jeito como fala com orgulho do seu negócio.
13/07/2009 – Rússia
No aeroporto de Moscow comemos um strudel de maçã que para mim parecia muito um Fludn, só que só tinha maçã. Está divertido passear a pé e as pessoas virem me perguntar coisas na rua, tipo orientação... em russo! Acham que sou daqui. Eu me sinto um pouco em casa quando ouço o russo, e me lembra meu avô Michel falando com a tia Lina ou com o tio Monia, tia Sônia.
Com os dados que meu pai me deu, de que o pai da minha Avó Rivinha nasceu na Moldávia e a mãe na Ucrânia, eu fiz os cálculos e descobri que eu, o Rô e o Paulo somos:
25% Húngaros
37,5% Ucranianos
37,5% Moldavos
Mas como antes Ucrânia e Moldávia eram Bessarábia, então somos:
75% Bessarabos (será que é assim que se fala?) e
25% Húngaros.
Em Samara almoçamos em um restaurante típico ucraniano, e tomamos uma sopa que lembra muito a da Bivó Clara.
London, London
Passamos mais uma semana em Londres para nos organizar, entrevistar mais uma gerente chave da Fair Finance e curtir os primos do Beto – o Lu e a Katia e o João Lord. Foi ótimo, eles são tão bacanas! Dormimos alguns dias no Andrés e alguns dias nos primos. Passeamos um pouco mais, compramos um netbook – agora temos 2 máquinas para podermos trabalhar juntos-, e uma máquina fotográfica melhor, para tirar fotos dos entrevistados e da nossa viagem. Encontrei a Lud, minha amigona que está morando aqui. Jantamos num pub orgânico delicioso. Pensamos em adiar a Rússia e voltar para Findhorn, mas então pensamos melhor e decidimos ir para Rússia, Ucrânia e Moldávia, entrevistar as pessoas planejadas, conhecer estes lugares tão diferentes e especiais, as origens da minha família, e então voltar para Findhorn. Viva!
Nossa experiência lá – Experience Week
A semana de experiência em Findhorn é uma dessas coisas da vida que marcam tanto que parece que duraram 6 meses. Foi uma semana de grande contato com nós mesmos, de desenvolvimento pessoal. Alguns momentos não foram fáceis, mas saímos de lá tão plenos, tão cheios de vida, que estávamos nos sentindo em casa e no paraíso, ao mesmo tempo. Como levar isso para o nosso cotidiano? Viver mais plenamente, sempre. Ficamos muito amigos da Marja, do Sean, da Tracie, da Seynabou, além de outras pessoas muito bacanas que conhecemos. Dormíamos menos do que o normal, mas mesmo assim tínhamos bastante energia. E tivemos papos interessantes com muitas pessoas. Auto-conhecimento potencializado!
Ah, além disso, anoitecia às 23:30 e amanhecia às 2:30. E eles não têm venezianas, só cortininhas. O dia dura até você se cansar mesmo.
Voz interior
Uma outra coisa muito interessante sobre Findhorn é o seu desenvolvimento como comunidade espiritual. No começo, um casal com seus filhos e uma amiga - que perderam os empregos num hotel próximo e não tinham nada - foram morar num trailer neste local e começaram a plantar para comer. O lugar era muito inóspito, mas a Eileen, uma das mulheres, ouvia uma voz que lhe guiava para o que era melhor fazer, e que sempre funcionava. Seu marido era muito pragmático e seguia fielmente e assim eles foram se estabelecendo. Dorothy, a outra mulher, também tinha uma sensibilidade para os seres da floresta e as plantações que eles faziam num terreno arenoso davam cada vez mais e melhores frutos. Além disso, eles tinham a prática espiritual diária como uma de suas bases. Várias pessoas foram chegando para viver com eles e como eles, e a comunidade foi se formando. Durante muitos anos, a Eileen ouvia as orientações e toda a comunidade seguia, e tudo ia bem, até que uma hora esta voz-guia deu a orientação de que estava na hora de cada membro da comunidade ouvir a sua própria voz interior. No início isso gerou uma crise, mas hoje a comunidade como um todo é muito mais forte e intuitiva, trazendo mais livre-arbítrio e autonomia para cada membro. Autogestão espiritual!
Findhorn
Findhorn é uma comunidade espiritual e que busca sua sustentabilidade em todos os sentidos, plantando orgânicos, tratando ecologicamente seu esgoto, compostando, buscando financiar suas necessidades oferecendo cursos diversos, recebendo grupos e prestando consultoria. Eles têm como princípio que cada um deve buscar ouvir atentamente o que sua “voz interna”, sua intuição ou seu Eu Superior têm a dizer sobre as coisas da vida a todo momento. Então, todo dia de manha as pessoas podem escolher entre 3 meditações: uma em silêncio, uma com cantos de Taizé e outra guiada. Estas meditações acontecem nos santuários, que são lindos, e quem quiser pode ir a todos. Em alguns sentidos, lembra um kibutz, mas tem o lado espiritual muito mais presente, além do comunitário. Todos trabalham em algum departamento – cozinha, horta, jardim e cuidado da “casa”, entre outros mais especializados. Cada vez que o trabalho vai começar, a equipe inicia fazendo um “sharing”- cada um diz como está se sentindo, como está chegando para o trabalho do dia – e depois faz um “attunement”, para que todos cheguem realmente inteiros para a tarefa, e que esta possa ser de fato o outro princípio mais importante deles, que é “Trabalho como forma de colocar o amor em prática”. Claro que não é fácil passar aspirador sempre de alto astral, mas muda toda a perspectiva enxergar toda a tarefa como um serviço amoroso e não só como uma tarefa. Depois de cada turno de trabalho, a equipe faz um “Tune out” para que as pessoas vejam o que realizaram e então se desliguem disso, partindo para as próximas atividades do dia.
Lá sempre tem pausa para chá com bolachas, a comida é deliciosa vegetariana, e os membros são super alto astral. As nossas focalizadoras foram a Monica e a Marja, 2 pessoas muito bacanas, tivemos também palestrantes maravilhosos, que estavam sempre falando do coração. O Cajedo foi um que nos tocou especialmente. Todos eles sentiram ou perceberam em algum momento que seu lugar era ali, pelo menos por um tempo. E isso é muito interessante de lá, que não são escolhas muito racionais, são de coração, sentidas como a verdade de cada um. Muito respeitosas, sempre. Viva!
Quem quiser saber mais sobre Findhorn dê uma olhada no ótimo site: www.findhorn.org
Londres
Em Londres ficamos por 1 semana na casa do Andrés, da Jolanta e da Stephania, e entrevistamos a Fair Finance. A casa do Andrés é uma delícia, com um jardim onde eles plantam de tudo: tomates, pimentões, alface, rúcula, capuchinhas, temperos, entre muitas outras coisas e flores. Tem uma amoreira centenária maravilhosa também! Além de oferecer a casa, o Andrés fez um churrasco e convidou vários amigos brasileiros que moram lá, e pudemos conversar com pessoas muito bacanas e interessantes. Recepção nota 100. Nesta época estava anoitecendo às 22:30 e amanhecendo às 3:30. Passamos lá o dia mais longo do ano: 21/06.
Madrid
Depois do Marrocos, passamos 3 dias deliciosos em Madrid, na casa da Marina Amorim e do Peter, passeando pela cidade, batendo papo, dormindo sonos reparadores. Fomos a um excelente restaurante: “El Pescador”, com todo tipo de frutos do mar deliciosos. Os dias estavam super quentes; eu e a Marina fomos na piscina e eu fiz uma massagem ayurvédica indicada por ela que foi muito especial. Ao chegar no espaço da massagista, tudo estava lindamente preparado, penumbra, objetos bonitos, e qual não foi minha surpresa ao deitar ver uma foto do Yogananda, olhando diretamente para mim! Sincronicidades. Valeu pela hospitalidade!
Encontramos Betão e a Fabi, que em várias oportunidades cozinharam deliciosamente, e abriram carinhosamente (o pouco) espaço em sua casa para nós. Boas conversas, jantar no indiano-tailandês-bengali delicioso. Valeu por tudo!
Balanço das filmagens no Marrocos
No Marrocos entrevistamos pessoas ligadas a 4 instituições de microfinanças:
Fondation Zakoura
Fondation Banque Populaire
Al Amana
AMSSF/MC
e 2 instituições de apoio:
Centre Mohammed VI de Soutien a La Microfinace Solidaire
Planet Finance Maroc
Foram 24 dias intensos de muitas filmagens, organização pré e pós filmagem, agendamento das próximas instituições.
Contamos com o apoio das instituições para tradução, com agradecimentos especiais para Leila Akhmisse, Zoubida Msefer e Youssef. Contamos com o super apoio do Mr. Andaloussi, um fellow da Ashoka que nos ajudou abrindo várias portas para as entrevistas, e o apoio de Mr. Maarouf, da Planet Finance, que abriu as portas da AMSSF/MC.
Música internacional no Marrocos
Quando estávamos indo visitar esta cliente e a agência da Al Amana de Tiflet, perto de Rabat, nosso tradutor Youssef – namorado da Zoubida – nos levou em seu carro, e fomos ouvindo uma rádio marroquina que toca músicas do mundo inteiro, várias conhecidas. Ficamos muito contentes quando começou a tocar uma do Gil: ! “...toda menina bahiana tem um jeito que Deus dá...”. Delícia!
O Marrocos tem muito de internacional. Além de ser um país árabe, está na África, tendo influência africana, e está muito perto da Espanha, além de ter sido colonizado por vários países europeus, como Espanha e França.
Mulher no Marrocos
A última cliente que entrevistamos tece tapetes manualmente, em uma sala de sua casa, com mais 3 ajudantes. Os tapetes são típicos da região e são vendidos ali e exportados para vários lugares do mundo, por lojistas da região. Algo que me chamou demais a atenção é que apesar da entrevistada não usar véu cobrindo sua cabeça, o tear é um tear vertical – eu nunca tinha visto um assim antes – e ela fica atrás do tear, protegida dos olhares que vem da rua. Quando entramos e esta mulher veio nos receber, demorei algum tempo para perceber que havia outra mulher tecendo atrás do tear, que com seus fios vermelhos, funciona como um véu, como uma cortina. Assim, o tear funciona como as treliças tão comuns na construção árabe, que esconde a parte de dentro das casas, para que as mulheres não sejam vistas. A própria entrevistada falou que se sente muito bem trabalhando em casa, pois pôde criar os filhos de perto, ao mesmo tempo em que tem um trabalho e se relaciona com os compradores, os lojistas, mas ao mesmo tempo está protegida, não é vista diretamente da rua o tempo todo. Esta sua sala é aberta para o exterior, com uma porta que fica aberta durante o dia. Um local de trabalho que respeita suas necessidades culturais e religiosas, e de mãe.
terça-feira, 9 de junho de 2009
Saudades
Recentemente tem ficado mais forte um sentimento de saudades da minha casa, das pessoas queridas, das rotinas conhecidas, do cotidiano. Eu gosto muito de viajar, consigo dormir em quase qualquer lugar, posso usar banheiros médios, e adoro conhecer gente, lugares e comidas novas. Mas agora que estamos fazendo as 3 refeições (ou 4, ou 5) fora de casa, e temos que escolher um restaurante, um café para comer, cansa. Sábias são a minha mãe a avó que quando viagem procuram ficar em hotéis que oferecem cozinha no quarto. Que cafés da manhã deliciosos fizemos juntos em nosso quarto em Nova York, há 1,5 ano atrás! Aqui temos comido muito pão, e apesar da alimentação ter bastante legumes e salada, eu não estou fazendo nenhuma ginástica cotidiana – fora andar para as entrevistas ou os passeios que escolhemos -, o que me preocupa um pouco. Também tenho pensado na minha comadre querida, Stela, que diz que não consegue ficar muito tempo fora de casa. Querida, agora eu estou te entendendo melhor! Aqui eu não sei o que vou comer, pois meu francês é médio, e mesmo quando acerto, o dos marroquinos também é médio. Além disso, às vezes eu queria só um iogurte, mas nem todo lugar tem. Ainda bem que aqui tem vitaminas de fruta deliciosas, além de leite de amêndoa. Viva! Mas e o meu leite com cereal, que saudade! E comida caseira? Tudo o que eu queria era uma comidinha caseira... das avós, da casa da minha mãe, da mãe do Beto... Outra coisa da qual estou me ressentindo um tanto é de não termos uma conexão maravilhosa com a internet. Nós usamos aqueles chips que você acopla ao computador como se fosse um celular, e ele parece Angra dos Reis: Vaga-lume acendendo e apagando! Agora estou escrevendo no Word para depois fazer o up-load deste texto, para ser menos frustrante. Hoje eu senti falta também, imaginem, da máquina de lavar roupa! Pois é, nós mandamos lavar nossa roupa fora, às vezes, mas ela não vem tão cheirosinha como em casa, e aqui para lavar no quarto até temos sabão em pó, mas a roupa não fica tão limpa e cheirosa, não sei por que... ai, ai. Eu que nem sou muito de cozinhar, estou com saudades de cozinhar também. Nada disso tem uma importância tão grande assim, mas são as minhas saudades. Ainda bem que tenho o Beto, meu companheiro de dia e de noite!
Museu Judaico
O Marrocos já teve muitos judeus vivendo aqui, e que tiveram grande importância cultural. Hoje são poucas pessoas em poucas cidades, mas aqui em Casa tem um museu que mostra um pouco da história e alguns objetos dos judeus marroquinos. Parece que a bandeira do país, que agora é vermelha e tem uma estrela de 5 pontas, até 1915 tinha uma estrela de David (de 6 pontas, típica judaica) em sua bandeira! E que foi retirada em época de anti-semitismo na Europa, aparentemente porque os governantes do Marrocos não queriam ter a imagem do país confundida com outras “bandeiras”.
1 computador por pessoa
Quando decidimos viajar por 10 meses, eu e o Beto ficamos na dúvida SE traríamos 1 computador ou não. Agora, percebemos que nós usamos computador para tudo! No nosso tempo livre, ou seja, quando não estamos filmando, temos muita coisa para fazer, além de curtir a cidade em que estamos e descansar:
- · Análise do que foi filmado, para selecionar trechos interessantes para a edição;
- · Agendar e articular entrevistas no país em que estamos e no próximo;
- · Pesquisa sobre o país e as instituições;
- · Pesquisa de passagens aéreas, de trem, de ônibus e eventual compra pela internet ou no guichê;
- · Pesquisa sobre coisas que nos chamam a atenção em cada país;
- · Conversar com amigos, parentes e colegas de trabalho no skype e por e-mail;
- · Escrever memórias, publicar no Blog, escrever no Facebook;
- · Tratar e publicar fotos;
- · Atualizar o site do Projeto;
- · Ler notícias sobre o Brasil;
- · Etc...
Em “Casa”, de novo
Ontem chegamos em “Casa”, como os marroquinos chamam carinhosamente Casablanca, de novo. Incrível como já não me sinto mais uma estranha aqui. Ando na rua e já não acho mais que todos ficam me olhando. Estou bem mais à vontade. Depois do carnaval 24hs que tem nas ruas de Marrakech ,especialmente na Praça Djemaa El-Fna. (Já fui olhar no Google o jeito como se escreve o nome da Praça – ponto para a conexão da internet que funcionou, mesmo depois de piscar mais uma vez), me sinto melhor em Casa, sem tantas pessoas nos abordando para vender coisas, comidas etc. Aqui parece mais com São Paulo. Marrakech parece um pouco o Pelourinho.
UFA! Livros em inglês
Eu estava sentindo falta de livros para ler, pois aqui só encontro em árabe ou, no máximo, em francês. Em Marrakech por sorte encontramos um café especial aberto por dois ingleses, chamado “Café dês Livres” que além de servir comidinhas deliciosas, têm uma bela biblioteca com livros que você pode ler lá, à vontade, e outros que você pode comprar, usados. E tinha vários em inglês, Oba! Eu encontrei 2 que me interessaram: um de um marroquino contando sua história – que é bem triste, mas ajuda a entender um pouco da realidade do país – e outro de uma americana que veio conhecer o Marrocos, acabou fazendo amizades e convivendo com as pessoas daqui. Enfim, já me senti mais acolhida. E este café ainda tinha poltronas super confortáveis e internet. Nós só saímos de lá quando eles estavam fechando, às 9 da noite...
Irritação
Como dar conta das atividades com uma rotina que não pode ser estruturada
6-6-9 - Marrakech
No dia 5 nós entrevistamos e filmamos 4 pessoas, 3 clientes e 1 agente de crédito da Fondation Zakoura, e foi muito bacana! Tudo funcionou bem, e no final do dia, eu e o Beto estávamos bem cansados. Com as coisas que temos para fazer e os planos mudando com o avanço dos contatos que fazemos, vivemos algumas tensões – positivas, inclusive – que nos deixam um pouco tensos. Semana passada nós estávamos aguardando a confirmação da viagem para filmar em Marrakech na 6ª, e na 4ª ficamos sabendo que temos que pegar o trem na 4ª para filmar 5ª em Marrakech o dia todo. E foi maravilhoso! Com emoção! É maravilhoso estar filmando e o projeto estar se desenvolvendo bem!! Viva!!
sábado, 30 de maio de 2009
Viagem de trem - uma bela possibilidade de aproximação
sexta-feira, 29 de maio de 2009
Roupas e Mulheres: ainda um mistério
segunda-feira, 25 de maio de 2009
Com que roupa eu vou, pro samba que você me convidou?
Chegamos ontem no Marrocos – país incluído recentemente na viagem – e eu estava deveras preocupada com que roupa usar, se seria importante usar a roupa típica delas, usar véu. Logo no trem para Fez, sentamos na cabine com 2 mulheres e 2 homens. Uma delas usava roupa toda preta e um véu que deixava o rosto redondo e muito alegre à mostra. A outra vestia calça e paletó, bem ocidentais, e um lenço que só cobria o cabelo. Meu francês rendeu razoavelmente e quando perguntei sobre os motivos que levam as pessoas a usar o véu, ela disse que são religiosos, mas que ela, mesmo sendo muçulmana praticante, opta por não usar o véu da forma tradicional. Chegando em Fez, logo notamos que muitas mulheres não usam o véu, e várias vezes vemos amigas ou familiares juntas, sendo que uma usa e a outra não, com naturalidade. Parece que o Marrocos é bastante aberto com relação a isso. Ou seja, aqui a roupa “típica” não existe. O mais comum é as mulheres usarem uma túnica bem comprida, até o tornozelo, e cobrir os braços. As roupas são bem coloridas, em geral, e parecem confortáveis, mas quentes. Mas tem várias mulheres que não usam, e no guia Lonely Planet (como é essencial!) fala que se uma turista usa o véu, ou as roupas mais tradicionais, será abordada pelas pessoas daqui, curiosas para saber por que usa, se é muçulmana... As turistas todas estão usando roupas ocidentais, algumas até regatas. Ainda estou percebendo como me sinto mais à vontade sem constranger ninguém. Por enquanto estou usando calça e camiseta, sem decotes. E cabelo à mostra, à vontade.
Hospitalidade Marroquina
Antes de virmos para o Marrocos, compramos um guia Lonely Planet na Espanha, e temos lido bastante sobre a cultura, sobre os passeios e as cidades que vamos visitar no Marrocos. Uma dica que o guia dá é que no Marrocos não se come na frente dos outros – num trem, por exemplo – sem oferecer um pouco da comida. Ainda segundo o guia, os costumes mandam que a outra pessoa recuse e que você ofereça mais insistentemente, até que na 3ª oferta a pessoa aceita- ao menos um pouquinho, se não está muito interessada, para ser gentil, ou um pedaço. Logo no nosso primeiro dia no país, tomamos o trem para Fez, numa cabine com mais 4 pessoas. Logo que pensei em comer o sanduíche que eu tinha comprado na estação, eu cheguei a pensar se passaria fome se oferecesse para todos um pedaço, pois a viagem demoraria 5 horas. Quando resolvi comer, decidi oferecer para todos apesar do meu receio, e insisti, como recomendava o livro. Ninguém aceitou o sanduíche, que dividi só com o Beto, mas as duas mulheres só faltavam dar pulos de alegria! Diziam: “os brasileiros são como os Marroquinos, compartilham a comida!”, e nós ficamos mais felizes ainda! Apesar de não ser um costume tipicamente brasileiro o de dividir comida em lugares públicos com desconhecidos, é nosso costume o afeto caloroso e a hospitalidade, que aqui encontraram um eco com este simpático costume marroquino... Depois disso, o trem quebrou e ficou umas 2 horas parado, tempo suficiente para comprarmos mais lanches no trem e todos oferecerem para todos, que agora aceitavam alegremente. E ninguém passou fome! Ponto para o Lonely Planet e pra hospitalidade no mundo!
Fronteira
Em Tarifa - cidade litorânea do sul da Espanha de onde saem balsas para o Marrocos-, tivemos momentos de reflexões sobre o que representa esta fronteira entre a Europa e a África árabe. Muitos árabes e africanos buscam emigrar para a Europa em busca de uma vida melhor, e Tarifa é uma possibilidade (nada fácil, com muitos militares prontos a evitar) a poucos quilômetros de Tanger, no Marrocos, que parece ser próxima demais. A Espanha até hoje tem cidades sob seu domínio na costa mediterrânea da África, como Ceuta. Muitos Bascos e Catalões querem independência da Espanha, questões sempre presentes. Por outro lado, Tarifa é um paraíso para os praticantes de kite-surf, e atrai esportistas do mundo inteiro e especialmente de toda a Europa, para praticar. É impressionante como Tarifa está no meio dos desejos de tanta gente!
Falando línguas
Uma coisa curiosa que me aconteceu foi que, depois de falar um pouco de inglês com um, um pouco de espanhol com outro, uma palavra de francês, minha mente começou a falar sozinha, como ela sempre fala muito, só que nestas línguas, e frases soltas, desconexas, sem sentido prático nenhum. Parecia que ela estava treinando, aquecendo para quando tivesse que falar algo numa dessas línguas, mas eu pude perceber isso claramente, como ela fala sozinha sem parar!!! Pareciam também distrações, para não me deixar ficar sozinha totalmente. Foi interessante poder perceber a mente como algo que não sou eu. EU SOU muito mais e além da mente e é muito bom perceber isso. Viva!
Silêncio e amizade
O silêncio é de ouro! Às vezes, durante à noite no jantar ou no albergue, me dava uma vontade de estar no caminho, com o silêncio, com o meu ritmo, sozinha. Mas em outros, estava era querendo conversar com o Beto, estar junto, encontrar os amigos que fomos conhecendo: Peter e Margaret (da Austrália), Gabriele e Uta (da Alemanha), a professora e sua amiga Veronika (da Alemanha), Raz e Martin ( de Israel e da Polônia, morando na Escócia), Mienke e Jocelyn (da África do Sul)...
Aprendizados
Algumas lições que aprendemos com o caminho: qual é o mínimo, o essencial para cada um, a cada momento; aprendemos a deixar os amigos para trás, ou para a frente, torcendo para nos encontrarmos em uma próxima parada, algum dia; a andar apesar de: um pouco de dor nas pernas, de 1 bolha, do sol, da chuva, do sono. O nosso corpo ganha uma habilidade de se recuperar de um dia para o outro que é incrível! Aprendemos a dar muito mais valor ao andar com nossas próprias pernas, que é alo delicioso. Algo fica a 5 quilômetros? Vamos andando! Quando chega o fim, chega o fim. Hora de começar a pensar em outra coisa. Mesmo que o nosso fim, dessa vez, tenha sido depois de andar 162 km em 10 dias de caminhada.
Eunates
Este templo no meio do campo é todo especial: octogonal, possibilita que a comunidade sente em roda e seja a principal parte da comunhão espiritual. Que lugar encantado! Parece que ainda está sendo usado, e de fato está, pelos peregrinos que por ali passam e se embriagam com a leveza que paira por ali, a todos inspirando...
Caminho de Santiago de Compostela - amoroso
Bons ventos
Uma surpresa boa foi ver a grande quantidade de moinhos de vento gerando energia eólica. Impressionante! Qualquer montanha mais alta, e lá estão eles. Energia limpa. Alguém sabe se é eficiente? Se dá conta da necessidade de energia da Espanha?
Espanha Agrícola
Nunca imaginei que a Espanha fosse um país tão agrícola! Percorremos a pé 150 km do Caminho de Santiago, o caminho de Madri até o norte e depois de Madri até o sul de trem, e vimos um clima parecido com o cerrado brasileiro, muito seco, e muita plantação de oliveira e parreira. Na Navarra vimos também bastante trigo e outros grãos, que dançavam ao vento. E ninguém! As plantações não dão muito emprego, pelo menos na primavera...
O capítulo da mala
Como fazer uma mala para 10 meses? Esta é uma arte que estamos desenvolvendo. A idéia é que não vamos ter sempre a melhor roupa para cada ocasião, mas precisamos de ao menos 1 roupa mais formal para entrevistas com gerentes das instituições, 1 roupa média para as entrevistas em geral e roupas muito confortáveis e fáceis de lavar e secar para a caminhada, para o dia a dia, etc. Nós escolhemos malas de 55 Litros +10 Litros. Estou orgulhosa de mim mesma! Nos primeiros dias achei que ia faltar roupa, mas sempre se pode comprar uma peça a mais, e esta é uma das graças da coisa toda. Não adianta levar a roupa certa para a Índia, pois lá é o melhor lugar para descobrir e comprar a roupa certa... além de serem lindas e mais baratas por lá.
Preparação
A preparação para o Giro começou 6 meses antes, e se intensificou muito desde o começo de 2009. Reforma, vistos, passagens, milhas, dinheiro, emprestar a casa, comprar roupas e mochilas, organizar toda a vida...
Nos últimos dias juntava-se à nossa animação e à correria dos últimos dias um sentimento intenso que percebemos:
Ninguém ficava indiferente quando falávamos da viagem. As reações e comentários eram sempre intensos, nada comparável a contar que faríamos uma viagem de férias, por exemplo. Alegria, entusiasmo, apreensão, tristeza, saudades, inveja boa, inveja ruim, vontade declarada de ir junto, apoio incondicional, apoio titubeante-oscilante, nós fomos percebendo todas estas emoções, que iam se somando às nossas. Imagine o tamanho da expectativa, da ansiedade, que buscávamos viver da forma mais calma possível, respirando, indo com calma.
Nossa viagem tem vários objetivos dentro dela:
Uns ligados ao Projeto Desenvolvimento Humano em Foco (veja mais em www.humaninfocus.org),
outros de auto-conhecimento, outros de desenvolver habilidades de meditação, corporais, além de fortalecer os laços do namoro, com novos horizontes, novos sabores, novos desafios.
Entre outros que sabemos ou nem sabemos ainda!