quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Findhorn

Estamos já há quase 2 semanas em Findhorn, e a experiência aqui é tão intensa que não sobra muito tempo para escrever e compartilhar...
Nós fizemos um seminário de 1 semana chamado Prática Espiritual, e nossa focalisadora é uma pessoa super sensível e de coração aberto. Saímos algumas vezes para fazer meditações na natureza, e foram muito bacanas. Tivemos momentos de dividir (Sharings) o que cada um estava sentindo muito bonitos e profundos, e aprendemos com o que cada pessoa está vivendo. Na semana passada, eu trabalhei 4 manhãs cuidando da casa, limpando física e energeticamente o lugar em que estamos.
Eu tenho participado de uma meditação linda que é feita de cantos da comunidade de Taizé, lindos! Formamos um coro com quantas pessosa quiserem cantar naquele dia, e cantamos com a voz e o coração, dentro de um santuário lindo.
Na última 2a feira, começamos um programa que dura 1 mês e que é menos estruturado, tem menos encontros de grupo, e mais trabalho. Antes de começar, nós nos "afinamos" com um departamento de trabalho que tem mais a nos enriquecer no momento, uma forma de escolha mais intuitiva do que racional. Eu me conectei com o departamento de manutenção !!! e o Beto com a horta. São 7 meios-períodos de trabalho por semana, mais os sharings e attunements em grupo, o que me deixa 1 tarde livre, que é hoje, e os finais de semana para descansar.
Trabalhar em Maintenance tem sido muito interessante, pois eu nunca antes tinha consertado praticamente nada, já que no Brasil nós chamamos especialistas para tudo. Aqui eles consertamo tudo sozinhos, a menos que seja algo muito sofisticado, grande ou difícil, quando então alguém de fora é contratado. Eu já fiz trabalho de impermeabilização no telhado de uma "casa", que é a caravan original, onde os criadores de Findhorn moraram quando chegaram aqui. Hoje ela é um escritório lindo por dentro, mas eu me senti tão honrada de estar consertando este espaço histórico daqui! E vi que é fácil para mim trabalhar no telhado, com todos os cuidados necessários, claro!
Eu também consertei torneira, usei furadeira, vedei burado, lixei parede para ser pintada, tudo isso em 3 dias de trabalho! Até ensinei 2 pessoas que estão aqui pela primeira vez a lixar a parede. Aqui, todos estão ensinando e aprendendo ao mesmo tempo. Agora o mais rico com minha equipe de trabalho foi ontem a tarde, quando fizemos o sharing, que cada um contou o momento que está vivendo, suas questões, as dificuldades, as alegrias... Um departamente em que só tem eu e mais uma mulher, de repente se enchendo de assuntos de emoção, foi muito bonito! Eu fiquei muito feliz! Isso é o que me alegra tanto de estar aqui passando este tempo.
Anteontem, nós tivemos uma sintonização para definirmos um própósito para nossa estadia aqui, e eu cheguei è seguinte intenção:
"Eu tenho a intenção de estar mais presente no coração do meu Ser Superior, do meu Inner Self."
Esta intenção é muito forte para mim, pois quando estou mais centrada, as dificuldades do dia-a-dia parecem fáceis, nada me perturba tanto, e eu posso aproveitar o que é realmente importante. Também me ajuda nas decisões que tenho que tomar, e está é uma lição para toda vida!

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Sokyrianyi – Ucrânia

Estamos hospedados em uma cidade turística no sul da Ucrânia, chamada Kamianets’ Podil’s’kyi. A cidade é uma graça, mas o motivo da nossa vinda até aqui é conhecer Sokyrianyi, cidade já na fronteira com a Moldávia, região antes chamada de Bessarábia, onde algumas pessoas da minha família nasceram, viveram e morreram.

  • · Aqui nasceu Frida Fainbaum em 1902, mãe de minha avó Rivinha. Ela tinha 3 irmãos mais novos e sua mãe morreu cedo. Assim, o pai deixou ela, com aproximadamente 10 ou 12 anos - e os irmãos com uma parenta em Brichany - cidade próxima mas já na atual Moldávia – enquanto foi ver como era o Brasil para então levar sua família. Em 1915 (aproximadamente), foram para o Brasil, onde a Frida casou com o Favich e passou a chamar-se Frida Malay.
  • · Menicha Berezovski, mãe da Clara minha Bisavó, faleceu em Sokyrianyi em 1904, pouco depois de ter dado a luz à Clara, em Vyzhnitsia, ou em Vinnitsia, não sabemos bem.
  • · A minha Bisavó Clara Berezovski nasceu em 22/04/1904 em Vyzhnitsia, cidade a aproximadamente 300 km de Sokyrianyi, e viveu em Sokyrianyi até aproximadamente 1919, depois da primeira guerra, quando foi para o Brasil. Ela se casou com o Moisés, que nasceu em Raspopem, perto de Kishinev, na Moldávia, passando a se chamar Clara Rechulski.

Eu e o Beto fomos para Sokyrianyi com um taxista e um tradutor que falava inglês, além de russo e ucraniano. A viagem foi uma visita ao passado. Hoje Sokyrianyi tem aproximadamente 10.000 habitantes e nós viramos atração, com nossa busca por informação. Hoje não há mais judeus vivendo por lá. Muitos saíram depois da primeira guerra para Israel, França, Brasil, Alemanha, entre outros. Muito foram perseguidos na 2ª guerra e dos que sobreviveram, a maioria foi para Israel após a segunda Guerra. Alguns poucos ainda viveram aqui até décadas posteriores.

Fomos visitar o cemitério israelita, e encontramos um cemitério abandonado. Por sorte nosso tradutor encontrou o senhor que toma conta de alguns túmulos de pessoas que lhe confiaram o serviço. Ele toma conta do “cemitério novo”, uma parte do cemitério em que as pessoas enterradas faleceram mais recentemente, depois de 1960. As lápides desta parte são todas escritas em russo, e algumas poucas têm também algumas palavras em hebraico. A parte do “cemitério antigo” tem muitos arbustos crescendo, mato, algumas flores silvestres, a natureza é quem está tomando conta. As lápides estão em Hebraico. Algumas lápides estão quebradas e muitas conseguimos chegar perto de tão fechada que está a “floresta”. A imagem foi bastante desoladora.

Depois eu e o Beto ficamos refletindo sobre este abandono e lembramos que as pessoas que saíram da região não podiam voltar durante o regime soviético. Ninguém podia vir de fora visitar parentes. E depois da perseguição da 2ª guerra e do regime soviético, as pessoas ainda vivas talvez nem tenham idade para voltar para esta cidadezinha. Dessa forma, a parte antiga do cemitério está abandonada há pelo menos uns 60 anos. Eu tentei ler as lápides para ver se encontrava a minha Tataravó Menicha, ou alguém Berezovski, com o meu parco conhecimento de hebraico, mas não achei nada.

Buscamos então o arquivo da cidade, para tentar levantar alguma informação sobre Frida Fainbaum, Menicha Berezovski ou ainda Schwarcz, da da família da Eva Ocougne, mas ninguém sabia de nada. O que nos disseram é que em 1944, durante a 2ª guerra, houve um incêndio, que queimou os arquivos anteriores a esta data.

Uma coisa que descobrimos é que há uma pessoa nascida em 1928 em Sokyrianyi, chamado Michail Stivelman, - que foi morar na França em 1946 e depois no Rio de Janeiro, no Brasil, que estava escrevendo a história dos judeus de Secureni, ou Sokyrianyi. Ele até propôs que se fizesse um monumento aos judeus mortos no holocausto, próximo ao monumento dos soldados que morreram na guerra. Parece que este monumento ainda está para ser construído. Seria interessante sabermos se o Michail ainda mora no Brasil, e o que ele tem de informação. Também seria interessante eventualmente procurar outros judeus pelo mundo que saíram de Sokyrianyi para ajudar a preservar o cemitério e a memória.

De qualquer forma, a vida dos judeus nesta região no último século não foi fácil, e ficou muito claro para mim que meus Bisavós e meus Avôs fizeram uma ótima escolha decidindo ir para o Brasil, onde suas famílias puderam prosperar e viver num ambiente mais aberto para a prática de diversas religiões.

Sobre a economia e política da Ucrânia e da Moldávia

Os dois países ficaram independentes da União Soviética em 1991, com o colapso da USSR. Havia uma expectativa de que simplesmente sair do jugo da Rússia levaria estes países para um modelo de desenvolvimento capitalista, e que a vida melhoraria consideravelmente. Porém, são países pobres – especialmente a Moldávia – e com uma democracia muito recente.

Os jovens têm muita educação, mas poucas oportunidades de trabalho. Sonham em obter uma nacionalidade européia, então muitos querem que a Ucrânia e a Moldávia se juntem à União Européia. Mas há uma parte das pessoas que acredita mais na igualdade entre as pessoas promovida pela USSR, e querem voltar a ter políticas russas implementadas por aqui. Esta é a principal tensão política: pró-Rússia ou pró-ocidente.

Nas regiões do norte e leste (mais próximas da Rússia), se fala Russo como primeira língua, e concentra a maior parte das pessoas pró-Rússia. Já no sul e no oeste se fala Ucraniano como primeira língua. Vende-se uma camiseta na rua que diz assim: “Graças a Deus eu não sou pró-Rússia”. É uma sociedade bastante dividida nesse momento.

A Rússia é uma ameaça permanente. Durante a URSS a Rússia doou uma região chamada Crimea para a Ucrânia, pois nunca imaginaram que haveria o colapso do sistema socialista. Com a independência da Ucrânia, o território passou a ser reivindicado pela Rússia, mas a Ucrânia não o pretende devolver.

Durante o regime socialista, as crianças e jovens ucranianos eram proibidos de falar ucraniano na escola, tinham que falar russo. Uma violência cultural. Muitas igrejas foram destruídas pela URSS. Hoje, tanto na Rússia como na Ucrânia vimos uma forte religiosidade nas pessoas. Muitos freqüentam as igrejas, usam o símbolo da cruz no pescoço, etc.

A tentativa de ir para a Moldávia

Nós queríamos ir para a Moldávia, terra onde nasceu meu Avô Michel, seus pais, o meu Bisavô Favich, e onde outras pessoas da família nascerem, em Kishinev, Brichany e Edineti.

Não sabíamos, mas para ir para a Moldávia, o brasileiro precisa ter uma carta convite oficial para então ter o visto. Esta carta oficial pode ser conseguida pela equipe do www.visatorussia.com, mas leva 22 dias e custa 250 dólares. Nós descobrimos isso um pouco tarde demais, então não será desta vez que visitaremos a Moldávia.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Kiev - a capital suave

A cidade de Kiev nos trouxe uma tranqüilidade diferente de Moscow e São Petersburgo, que são bastante agitadas. Aqui as ruas e avenidas são movimentadas, mas as calçadas são largas, há muitos lugares bonitos para passear e o transporte público funciona. As pessoas são mais tranqüilas que os russos. São mais relaxados na roupa, nos costumes, no jeito de tratar, gostam muito de ajudar. Parecem mais com os brasileiros, neste sentido.

Ah, e não tem tantos guardas vigiando cada passo das pessoas para capturar imigrantes ilegais dos países da antiga união soviética. Nós entramos um pouco nesta paranóia na Rússia, pois não nos "registramos" no país, algo que os hotéis fazem automaticamente. Porém, como ficamos na casa de uma pessoa que aluga um apartamento, ele não podia nos registrar. Burocracias.

Voltando a Kiev, nos hospedamos em 2 casas, na do John, um americano que mora aqui há 4 anos e trabalha em casa, como consultor. Depois ficamos na casa de Irena, uma engenheira que atualmente é professora de yoga e com a qual tivemos muitas identificações desde o primeiro minuto: ela já foi para a Índia 2 vezes para fazer cursos de yoga e meditação; sua casa tem fotos de uma encarnação de Babagi, do Osho, da Amma, do Sai Baba e de Kalki, alguns dos gurus com os quais ela aprende; ela também adora fazer passeios na natureza. E tudo isso descobrimos sem que ela falasse praticamente nada de inglês! Ela foi super afetuosa.

Tanto a Irena quanto o John nos emprestaram seus quartos. A Irena ainda tinha mais lições para nós: ela vive com o absolutamente necessário: na cozinha há poucos utensílios muito usados, que ficam “guardados” sobre um pano no terraço da cozinha.

Na sala – que é o espaço em que ela dá aula de yoga, há mais de 20 vasinhos de flores num canto e o computador sobre uma mesinha. Ela usa o computador sentada no chão. No quarto, ela e o filho dormem em colchonetes fáceis de dobrar e guardar. Tudo é muito prático e fácil de limpar. Uma lição sobre o que é o essencial!

domingo, 26 de julho de 2009

Kiev - memórias ou novidades?

Chegamos ontem à noite em Kiev, na Ucrânia. Além de visitar uma instituição de microfinanças, o que nos traz para estes lados é conhecer um pouco a região de onde meus bisavós vieram. Nenhum veio da Rússia, como eu pensava há alguns anos, mas da Ucrânia e da Moldávia. Ainda estamos rastreando quem nasceu onde, onde estudou... e estamos descobrindo um jeito de visitar as cidades pequenas, que nem aparecem no google maps. Estou achando algumas no google earth. Os nomes mudam bastante, do íidiche ou do jeito antigo que se usava, para o russo ou ucraniano ou moldavo. Está sendo uma experiência interessante estar tão perto da "terrinha" que antes eu só ouvia falar como sendo um lugar tão distante no espaço e no tempo. Queria que minhas avós estivessem aqui também, ia ser mais legal!
Estou conseguindo "ler" em cirílico! Isto é, consigo traduzir as letras para ler seu som em nosso alfabeto. Será que eu já vivi uma vida anterior nessa região?

Moscow - passeio e entrevistas

Tivemos dias muito gostosos em Moscow. Visitamos alguns museus muito bacanas, e gostamos especialmente de um que encontramos meio por acaso, no dia em que estávamos saindo da entrevista com a Finca Rússia. Foi uma experiência que adoramos: nós saímos procurando um lugar para almoçar, e, andando na rua, de repente vimos umas esculturas em um jardim, e eram muitas esculturas e chamavam muito a atenção. Nós ficamos olhando curiosos e depois de 2 segundos um guarda/porteiro veio nos convidar para entrar. Nós vimos esculturas interessantes de pessoas, e no fundo tinha um lindo café, com mosaicos, muito bem decorado, mas muito caro. Então, descobrimos que era o café do museu de arte contemporânea, e resolvemos entrar. Tinha arte bem contemporânea, instalações, quadros muito legais. Adoramos. Muito alto astral!
Fomos também à Pushkin Galery, onde vimos alguns quadros lindos do Marc Chagal, além de quadros lindos do Matisse e de outros artistas.
Em Moscow fomos também ao show de uma banda de amigos da nossa anfitriã, a Ana. As músicas eram muito boas, de composição da banda mas com ritmos latinos, ska, entre outros bem animados. Dançamos. Que delícia!
A Ana foi super receptiva. Ela está aprendendo espanhol - fala muito melhor espanhos do que inglês, que detesta!. Ela faz capoeira. E nos convidou para dormir no quarto dos seus pais, que estão fora, de férias. Sua casa é cheia de plantas, e a cozinha é uma floresta.
Passeamos bastante a pé, andamos muito de metrô, que é uma experiência única em Moscow. As estações são grandes, os trens vão rápido, com intervalos curtos entre eles, e muita gente usa. As escadas rolantes são quilométricas!
No sábado ficamos em casa antes do nosso vôo para Kiev. Esta é uma sabedoria que temos desenvolvido: às vezes é importante tirar férias, descansar. Temos contato com muitas coisas novas por minuto: cheiros, sons, emoções, ansiedades, pessoas, informações, e tudo isso cansa. Precisa de tempo para ser curtido com calma. Viva!

terça-feira, 21 de julho de 2009

Moscow – 21 de julho de 2009

Chegamos em Moscow, que fica a só 1:30 de avião de São Petersburgo, numa jornada que começou saindo da casa da Anna às 9:30 e chegando na casa da outra Ana às 23:30. Nosso avião atrasou, e a Ana de Moscow só sairia de sua aula de espanhol (!) às 22hs, então ficamos esperando por ela num café no centro. Quem nos colocou em contato com a Ana foi a Marina Tenório, amiga do Fê Vilela, que tem uma amiga em comum com ela. Ela fala espanhol muito bem e temos falado mais em espanhol do que em inglês. Ela trabalha em casa e tem sido um amor nos recebendo e oferecendo tudo o que podemos precisar. Ela é artista e sua casa é um pouco diferente da da outra Anna: não tem sala e tem uma decoração diferente em cada cômodo. Estamos dormindo no quarto dos seus pais, que estão no sítio. (Dacha).

Andamos já bastante de metrô por aqui, e para isso, nossa capacidade de entender um pouco do alfabeto cirílico tem se aprimorado muito. Eu me sinto como uma criança que anda na rua lendo tudo quanto é placa, para ver se consigo ler. Ontem, nossa anfitriã Ana foi nos buscar no metrô e, pela primeira vez, ela tomou o metrô para o lado errado.

São Petersburgo – 20 de julho de 2009

Estamos saindo de São Petersburgo, depois de 5 dias muito gostosos aqui. Nós ficamos hospedados na casa da Anna, que é filha de um casal que é amigo da prima da Maria Helena que é mãe dos meus primos Flavinha e João. A Anna também estava recebendo outras 2 pessoas pelo Couchsurfing, já que seus pais estão viajando. Ela foi super simpática, e além de nos dar várias dicas de o que fazer, como chegar nos lugares, foi também conosco passear pela cidade. Os dias estavam lindos, ensolarados, com calor de mais de 25 graus. À noite o sol se punha depois das 22hs, e só ficava escuro mesmo depois da 1:30 da madrugada, e só por 1 hora, mais ou menos. Dá pra aproveitar e passear bastante assim! Passeamos de barco; subimos no Colonade, de onde dá pra ver toda a cidade; nos admiramos com a igreja da Ressurreição e seus mosaicos MARAVILHOSOS! São tão coloridos, mostram muitas imagens bíblicas, e não valorizam tanto o sofrimento como as igrejas católicas. As cores são alegres; tem muitas flores e plantas. Que riqueza de detalhes! Estivemos no Hermitage vendo a imensa coleção de arte do mundo todo, especialmente européia, que eles têm. Passeamos muito a pé, e para vir e voltar da casa da Anna, usamos o metrô.

O apartamento da Anna deu um pouco de idéia de como vive uma pessoa de classe média em São Petersburgo. 2 quartos, uma sala, uma cozinha pequena que é também onde se come, com uma mesa para 3 pessoas ou mais, se se afasta ela da parede. A pia não é muito grande, e não tem muito onde apoiar coisas para picar etc, então tem-se que ser muito prático e eficiente, e já lavar tudo o que acabou de se usar, rapidamente. A máquina de lavar roupa fica na cozinha (como na Europa, em geral), e ela também é secadora, para os dias em que não dá pra secar no varal. O banheiro é dividido em 2 partes: uma é onde fica a privada – das pessoas e também do gato, que tem suas caixas/banheiro ali também. A outra é onde fica a banheira com chuveiro. Tem uma varanda, e no caso da casa da Anna, uma vista linda para um parque. Tira-se o sapato para entrar em casa. Ela tem um computador na sala de casa com uma boa conexão à internet, mas é um computador para toda a família, e não tem wireless.

A Anna casou-se com 22 anos e aos 25 se divorciou. Ela disse que 22 é a idade em que as mulheres casam, em geral; que elas têm filhos aos 23, e que com 25 muitas se separam. Ela não teve filhos. Pela tradição local, espera-se 1 ano depois de decidir se separar para de fato se divorciar, para que o casal reconsidere se é o caso de voltar a ficar juntos. A mãe da Anna, Galina, é Bahai de religião, e a Anna gosta muito da linha espiritual deles, já foram até para Israel fazer uma peregrinação Bahai.

Pudemos conhecer bastante da vida de uma russa jovem, conversando com a Anna, que fala inglês muito bem.

As coisas aqui são um tanto caras para os brasileiros. Por sorte nós temos hospedagem de graça, mas comer fora é bastante proibitivo, então tentamos fazer sanduíches e levar conosco no dia, sempre que possível. Um lanche rápido na rua pode custar facilmente 20 reais por pessoa! Às fezes encontramos refeições boas por 20 reais, mas em geral elas custam mais caro...

Entrevistas em Samara - Finca Rússia

As entrevistas foram muito interessantes. Além do pessoal da Finca, as clientes são mulheres fortes, que tocam seu próprio negócio, com apoio dos maridos. Elas moram em um vilarejo chamado Suhodol.

Uma é dona de 6 mercados de bairro, tendo começado com um mercadinho bem pequeno, quando se divorciou, e tinha 2 filhas pequenas. Começou sem ajuda nenhuma da família, mas com um crédito extorsivo de algum agiota. Depois que encontrou a Finca, começou a ter crédito mais sustentável, e conseguiu expandir o negócio. Hoje tem 23 funcionárias.

A outra tem uma fábrica de Pelmeni, um ravióli delicioso de carne, muito tradicional daqui. Ela tem 6 ou 7 funcionárias, compram carne dos vendedores da região, e vendem Pelmeni nos mercadinhos também da região. A tradutora foi super importante, pois as clientes não falavam nada de inglês, e nós, nada de russo. O trabalho dessa mulher, deriva muito do papel da Babushka russa, da avó que cozinha pelmeni para seus filhos e netos, algo que pode levar horas, e que a princípio todas as mulheres russas sabem fazer. Ela levou esta habilidade feminina para seu empreendimento, trabalha entre mulheres, nutrindo outras pessoas e gerando renda para sua família, nutrindo-se e nutrindo sua família desse outro jeito também. E está muito realizada, pelo jeito como fala com orgulho do seu negócio.


13/07/2009 – Rússia

No aeroporto de Moscow comemos um strudel de maçã que para mim parecia muito um Fludn, só que só tinha maçã. Está divertido passear a pé e as pessoas virem me perguntar coisas na rua, tipo orientação... em russo! Acham que sou daqui. Eu me sinto um pouco em casa quando ouço o russo, e me lembra meu avô Michel falando com a tia Lina ou com o tio Monia, tia Sônia.

Hoje descobri por que o Rô – meu irmão - nasceu com olho puxadinho: entrevistamos um cara daqui (do Kyrguistão, na verdade), que trabalha na Finca Rússia em Samara, e ele tem cara de quase chinês!!!

Com os dados que meu pai me deu, de que o pai da minha Avó Rivinha nasceu na Moldávia e a mãe na Ucrânia, eu fiz os cálculos e descobri que eu, o Rô e o Paulo somos:

25% Húngaros

37,5% Ucranianos

37,5% Moldavos

Mas como antes Ucrânia e Moldávia eram Bessarábia, então somos:

75% Bessarabos (será que é assim que se fala?) e

25% Húngaros.

Em Samara almoçamos em um restaurante típico ucraniano, e tomamos uma sopa que lembra muito a da Bivó Clara.


London, London

Passamos mais uma semana em Londres para nos organizar, entrevistar mais uma gerente chave da Fair Finance e curtir os primos do Beto – o Lu e a Katia e o João Lord. Foi ótimo, eles são tão bacanas! Dormimos alguns dias no Andrés e alguns dias nos primos. Passeamos um pouco mais, compramos um netbook – agora temos 2 máquinas para podermos trabalhar juntos-, e uma máquina fotográfica melhor, para tirar fotos dos entrevistados e da nossa viagem. Encontrei a Lud, minha amigona que está morando aqui. Jantamos num pub orgânico delicioso. Pensamos em adiar a Rússia e voltar para Findhorn, mas então pensamos melhor e decidimos ir para Rússia, Ucrânia e Moldávia, entrevistar as pessoas planejadas, conhecer estes lugares tão diferentes e especiais, as origens da minha família, e então voltar para Findhorn. Viva!

Nossa experiência lá – Experience Week


A semana de experiência em Findhorn é uma dessas coisas da vida que marcam tanto que parece que duraram 6 meses. Foi uma semana de grande contato com nós mesmos, de desenvolvimento pessoal. Alguns momentos não foram fáceis, mas saímos de lá tão plenos, tão cheios de vida, que estávamos nos sentindo em casa e no paraíso, ao mesmo tempo. Como levar isso para o nosso cotidiano? Viver mais plenamente, sempre. Ficamos muito amigos da Marja, do Sean, da Tracie, da Seynabou, além de outras pessoas muito bacanas que conhecemos. Dormíamos menos do que o normal, mas mesmo assim tínhamos bastante energia. E tivemos papos interessantes com muitas pessoas. Auto-conhecimento potencializado!

Ah, além disso, anoitecia às 23:30 e amanhecia às 2:30. E eles não têm venezianas, só cortininhas. O dia dura até você se cansar mesmo.


Voz interior

Uma outra coisa muito interessante sobre Findhorn é o seu desenvolvimento como comunidade espiritual. No começo, um casal com seus filhos e uma amiga - que perderam os empregos num hotel próximo e não tinham nada - foram morar num trailer neste local e começaram a plantar para comer. O lugar era muito inóspito, mas a Eileen, uma das mulheres, ouvia uma voz que lhe guiava para o que era melhor fazer, e que sempre funcionava. Seu marido era muito pragmático e seguia fielmente e assim eles foram se estabelecendo. Dorothy, a outra mulher, também tinha uma sensibilidade para os seres da floresta e as plantações que eles faziam num terreno arenoso davam cada vez mais e melhores frutos. Além disso, eles tinham a prática espiritual diária como uma de suas bases. Várias pessoas foram chegando para viver com eles e como eles, e a comunidade foi se formando. Durante muitos anos, a Eileen ouvia as orientações e toda a comunidade seguia, e tudo ia bem, até que uma hora esta voz-guia deu a orientação de que estava na hora de cada membro da comunidade ouvir a sua própria voz interior. No início isso gerou uma crise, mas hoje a comunidade como um todo é muito mais forte e intuitiva, trazendo mais livre-arbítrio e autonomia para cada membro. Autogestão espiritual!

Findhorn

Findhorn é uma comunidade espiritual e que busca sua sustentabilidade em todos os sentidos, plantando orgânicos, tratando ecologicamente seu esgoto, compostando, buscando financiar suas necessidades oferecendo cursos diversos, recebendo grupos e prestando consultoria. Eles têm como princípio que cada um deve buscar ouvir atentamente o que sua “voz interna”, sua intuição ou seu Eu Superior têm a dizer sobre as coisas da vida a todo momento. Então, todo dia de manha as pessoas podem escolher entre 3 meditações: uma em silêncio, uma com cantos de Taizé e outra guiada. Estas meditações acontecem nos santuários, que são lindos, e quem quiser pode ir a todos. Em alguns sentidos, lembra um kibutz, mas tem o lado espiritual muito mais presente, além do comunitário. Todos trabalham em algum departamento – cozinha, horta, jardim e cuidado da “casa”, entre outros mais especializados. Cada vez que o trabalho vai começar, a equipe inicia fazendo um “sharing”- cada um diz como está se sentindo, como está chegando para o trabalho do dia – e depois faz um “attunement”, para que todos cheguem realmente inteiros para a tarefa, e que esta possa ser de fato o outro princípio mais importante deles, que é “Trabalho como forma de colocar o amor em prática”. Claro que não é fácil passar aspirador sempre de alto astral, mas muda toda a perspectiva enxergar toda a tarefa como um serviço amoroso e não só como uma tarefa. Depois de cada turno de trabalho, a equipe faz um “Tune out” para que as pessoas vejam o que realizaram e então se desliguem disso, partindo para as próximas atividades do dia.

Lá sempre tem pausa para chá com bolachas, a comida é deliciosa vegetariana, e os membros são super alto astral. As nossas focalizadoras foram a Monica e a Marja, 2 pessoas muito bacanas, tivemos também palestrantes maravilhosos, que estavam sempre falando do coração. O Cajedo foi um que nos tocou especialmente. Todos eles sentiram ou perceberam em algum momento que seu lugar era ali, pelo menos por um tempo. E isso é muito interessante de lá, que não são escolhas muito racionais, são de coração, sentidas como a verdade de cada um. Muito respeitosas, sempre. Viva!

Quem quiser saber mais sobre Findhorn dê uma olhada no ótimo site: www.findhorn.org

Londres

Em Londres ficamos por 1 semana na casa do Andrés, da Jolanta e da Stephania, e entrevistamos a Fair Finance. A casa do Andrés é uma delícia, com um jardim onde eles plantam de tudo: tomates, pimentões, alface, rúcula, capuchinhas, temperos, entre muitas outras coisas e flores. Tem uma amoreira centenária maravilhosa também! Além de oferecer a casa, o Andrés fez um churrasco e convidou vários amigos brasileiros que moram lá, e pudemos conversar com pessoas muito bacanas e interessantes. Recepção nota 100. Nesta época estava anoitecendo às 22:30 e amanhecendo às 3:30. Passamos lá o dia mais longo do ano: 21/06.

A Fair Finance é uma instituição interessantíssima, que além de fornecer microcrédito para empreendedores aumentarem seus negócios e para início de negócios – algo raro no setor -, também dão aconselhamento financeiro para pessoas muito endividadas, ajudam-nas a negocias suas dívidas, e oferecem crédito pessoal para que as pessoas se livrem de agiotas e financeiras com juros muito altos. É uma instituição com forte motivação social, de ajudar as pessoas – principalmente imigrantes bengalis, africanos e caribenhos – a ajustar sua vida financeira e financiar suas iniciativas. O cliente que entrevistamos não conseguiu crédito antes com os bancos pois havia sido um funcionário de empresas e nunca precisou de dinheiro emprestado. Logo, não tinha histórico de pagamentos de crédito que comprovassem que era um bom pagador!

Madrid

Depois do Marrocos, passamos 3 dias deliciosos em Madrid, na casa da Marina Amorim e do Peter, passeando pela cidade, batendo papo, dormindo sonos reparadores. Fomos a um excelente restaurante: “El Pescador”, com todo tipo de frutos do mar deliciosos. Os dias estavam super quentes; eu e a Marina fomos na piscina e eu fiz uma massagem ayurvédica indicada por ela que foi muito especial. Ao chegar no espaço da massagista, tudo estava lindamente preparado, penumbra, objetos bonitos, e qual não foi minha surpresa ao deitar ver uma foto do Yogananda, olhando diretamente para mim! Sincronicidades. Valeu pela hospitalidade!

Encontramos Betão e a Fabi, que em várias oportunidades cozinharam deliciosamente, e abriram carinhosamente (o pouco) espaço em sua casa para nós. Boas conversas, jantar no indiano-tailandês-bengali delicioso. Valeu por tudo!

De Madrid despachamos por Fed Ex o primeiro lote de fitinhas filmadas no Marrocos – Oba! – e uma caixa pelo correio com 15 kgs de roupas e mochilas que usamos para o Caminho de Santiago e que não tínhamos como carregar.

Balanço das filmagens no Marrocos

No Marrocos entrevistamos pessoas ligadas a 4 instituições de microfinanças:

Fondation Zakoura

Fondation Banque Populaire

Al Amana

AMSSF/MC

e 2 instituições de apoio:

Centre Mohammed VI de Soutien a La Microfinace Solidaire

Planet Finance Maroc

Foram 24 dias intensos de muitas filmagens, organização pré e pós filmagem, agendamento das próximas instituições.

Contamos com o apoio das instituições para tradução, com agradecimentos especiais para Leila Akhmisse, Zoubida Msefer e Youssef. Contamos com o super apoio do Mr. Andaloussi, um fellow da Ashoka que nos ajudou abrindo várias portas para as entrevistas, e o apoio de Mr. Maarouf, da Planet Finance, que abriu as portas da AMSSF/MC.

Música internacional no Marrocos

Quando estávamos indo visitar esta cliente e a agência da Al Amana de Tiflet, perto de Rabat, nosso tradutor Youssef – namorado da Zoubida – nos levou em seu carro, e fomos ouvindo uma rádio marroquina que toca músicas do mundo inteiro, várias conhecidas. Ficamos muito contentes quando começou a tocar uma do Gil: ! “...toda menina bahiana tem um jeito que Deus dá...”. Delícia!

O Marrocos tem muito de internacional. Além de ser um país árabe, está na África, tendo influência africana, e está muito perto da Espanha, além de ter sido colonizado por vários países europeus, como Espanha e França.

Mulher no Marrocos

A última cliente que entrevistamos tece tapetes manualmente, em uma sala de sua casa, com mais 3 ajudantes. Os tapetes são típicos da região e são vendidos ali e exportados para vários lugares do mundo, por lojistas da região. Algo que me chamou demais a atenção é que apesar da entrevistada não usar véu cobrindo sua cabeça, o tear é um tear vertical – eu nunca tinha visto um assim antes – e ela fica atrás do tear, protegida dos olhares que vem da rua. Quando entramos e esta mulher veio nos receber, demorei algum tempo para perceber que havia outra mulher tecendo atrás do tear, que com seus fios vermelhos, funciona como um véu, como uma cortina. Assim, o tear funciona como as treliças tão comuns na construção árabe, que esconde a parte de dentro das casas, para que as mulheres não sejam vistas. A própria entrevistada falou que se sente muito bem trabalhando em casa, pois pôde criar os filhos de perto, ao mesmo tempo em que tem um trabalho e se relaciona com os compradores, os lojistas, mas ao mesmo tempo está protegida, não é vista diretamente da rua o tempo todo. Esta sua sala é aberta para o exterior, com uma porta que fica aberta durante o dia. Um local de trabalho que respeita suas necessidades culturais e religiosas, e de mãe.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Saudades

9-6-9
Recentemente tem ficado mais forte um sentimento de saudades da minha casa, das pessoas queridas, das rotinas conhecidas, do cotidiano. Eu gosto muito de viajar, consigo dormir em quase qualquer lugar, posso usar banheiros médios, e adoro conhecer gente, lugares e comidas novas. Mas agora que estamos fazendo as 3 refeições (ou 4, ou 5) fora de casa, e temos que escolher um restaurante, um café para comer, cansa. Sábias são a minha mãe a avó que quando viagem procuram ficar em hotéis que oferecem cozinha no quarto. Que cafés da manhã deliciosos fizemos juntos em nosso quarto em Nova York, há 1,5 ano atrás! Aqui temos comido muito pão, e apesar da alimentação ter bastante legumes e salada, eu não estou fazendo nenhuma ginástica cotidiana – fora andar para as entrevistas ou os passeios que escolhemos -, o que me preocupa um pouco. Também tenho pensado na minha comadre querida, Stela, que diz que não consegue ficar muito tempo fora de casa. Querida, agora eu estou te entendendo melhor! Aqui eu não sei o que vou comer, pois meu francês é médio, e mesmo quando acerto, o dos marroquinos também é médio. Além disso, às vezes eu queria só um iogurte, mas nem todo lugar tem. Ainda bem que aqui tem vitaminas de fruta deliciosas, além de leite de amêndoa. Viva! Mas e o meu leite com cereal, que saudade! E comida caseira? Tudo o que eu queria era uma comidinha caseira... das avós, da casa da minha mãe, da mãe do Beto... Outra coisa da qual estou me ressentindo um tanto é de não termos uma conexão maravilhosa com a internet. Nós usamos aqueles chips que você acopla ao computador como se fosse um celular, e ele parece Angra dos Reis: Vaga-lume acendendo e apagando! Agora estou escrevendo no Word para depois fazer o up-load deste texto, para ser menos frustrante. Hoje eu senti falta também, imaginem, da máquina de lavar roupa! Pois é, nós mandamos lavar nossa roupa fora, às vezes, mas ela não vem tão cheirosinha como em casa, e aqui para lavar no quarto até temos sabão em pó, mas a roupa não fica tão limpa e cheirosa, não sei por que... ai, ai. Eu que nem sou muito de cozinhar, estou com saudades de cozinhar também. Nada disso tem uma importância tão grande assim, mas são as minhas saudades. Ainda bem que tenho o Beto, meu companheiro de dia e de noite!

Museu Judaico

O Marrocos já teve muitos judeus vivendo aqui, e que tiveram grande importância cultural. Hoje são poucas pessoas em poucas cidades, mas aqui em Casa tem um museu que mostra um pouco da história e alguns objetos dos judeus marroquinos. Parece que a bandeira do país, que agora é vermelha e tem uma estrela de 5 pontas, até 1915 tinha uma estrela de David (de 6 pontas, típica judaica) em sua bandeira! E que foi retirada em época de anti-semitismo na Europa, aparentemente porque os governantes do Marrocos não queriam ter a imagem do país confundida com outras “bandeiras”.

1 computador por pessoa

Quando decidimos viajar por 10 meses, eu e o Beto ficamos na dúvida SE traríamos 1 computador ou não. Agora, percebemos que nós usamos computador para tudo! No nosso tempo livre, ou seja, quando não estamos filmando, temos muita coisa para fazer, além de curtir a cidade em que estamos e descansar:

  • ·        Análise do que foi filmado, para selecionar trechos interessantes para a edição;
  • ·        Agendar e articular  entrevistas no país em que estamos e no próximo;
  • ·        Pesquisa sobre o país e as instituições;
  • ·        Pesquisa de passagens aéreas, de trem, de ônibus e eventual compra pela internet ou no guichê;
  • ·        Pesquisa sobre coisas que nos chamam a atenção em cada país;
  • ·        Conversar com amigos, parentes e colegas de trabalho no skype e por e-mail;
  • ·        Escrever memórias, publicar no Blog, escrever no Facebook;
  • ·        Tratar e publicar fotos;
  • ·        Atualizar o site do Projeto;
  • ·        Ler notícias sobre o Brasil;
  • ·        Etc...

 

Nós temos outras coisas para fazer também, mas tomam menos tempo: Tomar banho, lavar roupa, respirar, meditar... Enquanto um usa o computador e a internet, o outro pode ajudar um pouco, mas depois vai fazer outras coisas. Mas como temos tanta necessidade da rede e de trabalhar e curtir coisas com o computador, decidimos que este vai ser um programa para fazermos juntos, ao mesmo tempo: vamos comprar um netbook e pronto! Vamos ver se isso vai diminuir o tempo que gastamos com computador e internet, ou aumentar, vai saber!

Em “Casa”, de novo

8-6-9
Ontem chegamos em “Casa”, como os marroquinos chamam carinhosamente Casablanca, de novo. Incrível como já não me sinto mais uma estranha aqui. Ando na rua e já não acho mais que todos ficam me olhando. Estou bem mais à vontade. Depois do carnaval 24hs que tem nas ruas de Marrakech ,especialmente na Praça Djemaa El-Fna. (Já fui olhar no Google o jeito como se escreve o nome da Praça – ponto para a conexão da internet que funcionou, mesmo depois de piscar mais uma vez), me sinto melhor em Casa, sem tantas pessoas nos abordando para vender coisas, comidas etc. Aqui parece mais com São Paulo. Marrakech parece um pouco o Pelourinho.

UFA! Livros em inglês

Eu estava sentindo falta de livros para ler, pois aqui só encontro em árabe ou, no máximo, em francês. Em Marrakech por sorte encontramos um café especial aberto por dois ingleses, chamado “Café dês Livres” que além de servir comidinhas deliciosas, têm uma bela biblioteca com livros  que você pode ler lá, à vontade, e outros que você pode comprar, usados. E tinha vários em inglês, Oba! Eu encontrei 2 que me interessaram: um de um marroquino contando sua história – que é bem triste, mas ajuda a entender um pouco da realidade do país – e outro de uma americana que veio conhecer o Marrocos, acabou fazendo amizades e convivendo com as pessoas daqui. Enfim, já me senti mais acolhida. E este café ainda tinha poltronas super confortáveis e internet. Nós só saímos de lá quando eles estavam fechando, às 9 da noite...

Irritação

Eu tenho às vezes um mau humor que vem não sei de onde, e que parece ter a ver com cansaço, frustrações, muita informação, muita mudança no cotidiano. E tenho percebido com alegria que estas irritações estão sendo curtas e rapidamente superadas. Não significa que não passo mais pelos momentos chatos, mas que depois me recupero rapidamente. Ainda bem! Viva a alegria, e viva o prazer, de estar gostando de viver!

Como dar conta das atividades com uma rotina que não pode ser estruturada

6-6-9 - Marrakech

No dia 5 nós entrevistamos e filmamos 4 pessoas, 3 clientes e 1 agente de crédito da Fondation Zakoura, e foi muito bacana! Tudo funcionou bem, e no final do dia, eu e o Beto estávamos bem cansados. Com as coisas que temos para fazer e os planos mudando com o avanço dos contatos que fazemos, vivemos algumas tensões – positivas, inclusive – que nos deixam um pouco tensos.  Semana passada nós estávamos aguardando a confirmação da viagem para filmar em Marrakech na 6ª, e na 4ª ficamos sabendo que temos que pegar o trem na 4ª para filmar 5ª em Marrakech o dia todo. E foi maravilhoso! Com emoção! É maravilhoso estar filmando e o projeto estar se desenvolvendo bem!! Viva!!

sábado, 30 de maio de 2009

Viagem de trem - uma bela possibilidade de aproximação

Estávamos viajando de Fez para Casablanca para começar as entrevistas do projeto no Marrocos. Desta vez a viagem seria de 5 horas, o dia estava um calorão e o ar-condicionado não funcionava. E o trem é daqueles que não abre janela... foi uma super sauna de 5 horas! Mas o que eu queria mesmo contar, é que sentamos em uma cabine com outras três mulheres de lenço na cabeça e djellaba (em árabe significa atraente, e se fala chilaba. É uma veste longa, larga e de mangas compridas) falando em árabe e uma mulher mais jovem, vestida a la ocidental. Nós pedimos informação sobre Casa (como Casablanca é chamada por aqui) para esta mulher que estava vestida como ocidental, e ela foi super solícita, ajudou a gente a fazer a reserva em um hotel que escolhemos em Casa, e deu várias dicas. Quando comemos, de novo oferecemos nossa comida, e algumas mulheres aceitaram um pouco. Foi bacana! Depois, esta mulher saiu em uma estação, e logo entrou um homem e uma outra mulher jovem, que deveria ter uns 27 anos, e vestia jeans, camiseta de manga comprida e lenço na cabeça. Eu e o Beto estávamos ouvindo música no ipod e, de repente, a mulher jovem começa a chorar discretamente, e logo uma das mulheres mais velhas começou a consolá-la, a fazer carinho, a falar com ela, e logo todas as mulheres e os homens estavam consolando ela, em árabe. Nós não conseguíamos entender nada, mas nós estávamos ali preocupados com a mulher. Depois de uns minutos, uma das outras mulheres nos conta em inglês que aquela mulher perdeu um filho há 2 meses. Agora nós podíamos compreender o que ela estava sentindo, um pouco. Por sorte, a mulher falava inglês também, e ela nos contou a história: ela teve alguma doença curante a gravidez que fez com que o filho, ao nascer, tivesse problemas de coração, pulmão e cabeça. Ela e o filho ficaram 1 mês na UTI, separados, se recuperando, e ela sequer chegou a ver o filho. Ela estava sofrendo muito por ele ter morrido, mas também por se sentir culpada, pois ela acha que a doença dela deveria ter feito mal a ela, e não ao filho. 
Em um instante, num vagão com pessoas que sequer conhecíamos, que falam uma língua distante, têm uma religião que conhecemos pouco, nós vivemos uma conexão tão grande com essa mãe, que está passando por um luto diferente mas parecido com o que nós vivemos há 2 anos...
Nós contamos para ela da Sofia, e dissemos algumas coisas nas quais acreditamos. Ela ficou se sentindo melhor. E nós ficamos super emocionados. Este encontro foi muito marcante. 
Definitivamente, nossas melhores experiências até agora de proximidade e de laços com marroquinas têm se dado dentro de trens! E apesar da sauna, ou do atraso.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Roupas e Mulheres: ainda um mistério

Em Fez nós ficamos na cidade antiga, chamada de Medina, e nós estávamos constantemente dentro de um mercado tipicamente árabe, com muitas ofertas de artesanatos lindos, comidas, de tudo o que poderia ser vendido. Impressionante! Andar na rua era curioso. As mulheres vestem roupas muito variadas, e era comum ver uma mulher de vestido até os pés e cabeça coberta com véu andar de braços dados um uma outra mulher de cabelos soltos e roupa mais decotada, mas sempre de braços cobertos e as pernas também, até o tornozelo. Agora estamos em Casablanca e nas ruas o que mais se vê são mulheres cobertas das mais variadas formas e níveis. Mas em partes mais modernas da cidade nós podemos ver marroquinas vestidas de forma "mais ocidental que as ocidentais", como disse nosso entrevistado de hoje. Elas andam lindas, com cabelos soltos, maquiagem, roupas de moda internacional. 
Só que os homens por aqui acham que têm que ser muito persuasivos para conquistar uma mulher, ou mostrar virilidade, sei lá. Sei que mesmo que eu ande com os braços cobertos, as pernas também, de braços dados com o Beto e olhando para o chão, os homens fazem aqueles elogios tipo "pedreiro" no Brasil... muito chato. Nem dá vontade de passear muito a pé. A gente tem que abstrair um pouco. Mas hoje conhecemos duas mulheres de uma instituição que entrevistaremos, e estou curiosa para termos mais tempo livre com elas para saber como é ser mulher por estas bandas...

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Com que roupa eu vou, pro samba que você me convidou?

Chegamos ontem no Marrocos – país incluído recentemente na viagem – e eu estava deveras preocupada com que roupa usar, se seria importante usar a roupa típica delas, usar véu. Logo no trem para Fez, sentamos na cabine com 2 mulheres e 2 homens. Uma delas usava roupa toda preta e um véu que deixava o rosto redondo e muito alegre à mostra. A outra vestia calça e paletó, bem ocidentais, e um lenço que só cobria o cabelo. Meu francês rendeu razoavelmente e quando perguntei sobre os motivos que levam as pessoas a usar o véu, ela disse que são religiosos, mas que ela, mesmo sendo muçulmana praticante, opta por não usar o véu da forma tradicional. Chegando em Fez, logo notamos que muitas mulheres não usam o véu, e várias vezes vemos amigas ou familiares juntas, sendo que uma usa e a outra não, com naturalidade. Parece que o Marrocos é bastante aberto com relação a isso. Ou seja, aqui a roupa “típica” não existe. O mais comum é as mulheres usarem uma túnica bem comprida, até o tornozelo, e cobrir os braços. As roupas são bem coloridas, em geral, e parecem confortáveis, mas quentes. Mas tem várias mulheres que não usam, e no guia Lonely Planet (como é essencial!) fala que se uma turista usa o véu, ou as roupas mais tradicionais, será abordada pelas pessoas daqui, curiosas para saber por que usa, se é muçulmana... As turistas todas estão usando roupas ocidentais, algumas até regatas. Ainda estou percebendo como me sinto mais à vontade sem constranger ninguém. Por enquanto estou usando calça e camiseta, sem decotes. E cabelo à mostra, à vontade.

Hospitalidade Marroquina

Antes de virmos para o Marrocos, compramos um guia Lonely Planet na Espanha, e temos lido bastante sobre a cultura, sobre os passeios e as cidades que vamos visitar no Marrocos. Uma dica que o guia dá é que no Marrocos não se come na frente dos outros – num trem, por exemplo – sem oferecer um pouco da comida. Ainda segundo o guia, os costumes mandam que a outra pessoa recuse e que você ofereça mais insistentemente, até que na 3ª oferta a pessoa aceita- ao menos um pouquinho, se não está muito interessada, para ser gentil, ou um pedaço. Logo no nosso primeiro dia no país, tomamos o trem para Fez, numa cabine com mais 4 pessoas. Logo que pensei em comer o sanduíche que eu tinha comprado na estação, eu cheguei a pensar se passaria fome se oferecesse para todos um pedaço, pois a viagem demoraria 5 horas. Quando resolvi comer, decidi oferecer para todos apesar do meu receio, e insisti, como recomendava o livro. Ninguém aceitou o sanduíche, que dividi só com o Beto, mas as duas mulheres só faltavam dar pulos de alegria! Diziam: “os brasileiros são como os Marroquinos, compartilham a comida!”, e nós ficamos mais felizes ainda! Apesar de não ser um costume tipicamente brasileiro o de dividir comida em lugares públicos com desconhecidos, é nosso costume o afeto caloroso e a hospitalidade, que aqui encontraram um eco com este simpático costume marroquino...  Depois disso, o trem quebrou e ficou umas 2 horas parado, tempo suficiente para comprarmos mais lanches no trem e todos oferecerem para todos, que agora aceitavam alegremente. E ninguém passou fome! Ponto para o Lonely Planet e pra hospitalidade no mundo!

Fronteira

Em Tarifa - cidade litorânea do sul da Espanha de onde saem balsas para o Marrocos-, tivemos momentos de reflexões sobre o que representa esta fronteira entre a Europa e a África árabe. Muitos árabes e africanos buscam emigrar para a Europa em busca de uma vida melhor, e Tarifa é uma possibilidade (nada fácil, com muitos militares prontos a evitar) a poucos quilômetros de Tanger, no Marrocos, que parece ser próxima demais. A Espanha até hoje tem cidades sob seu domínio na costa mediterrânea da África, como Ceuta. Muitos Bascos e Catalões querem independência da Espanha, questões sempre presentes. Por outro lado, Tarifa é um paraíso para os praticantes de kite-surf, e atrai esportistas do mundo inteiro e especialmente de toda a Europa, para praticar. É impressionante como Tarifa está no meio dos desejos de tanta gente!

Falando línguas

Uma coisa curiosa que me aconteceu foi que, depois de falar um pouco de inglês com um, um pouco de espanhol com outro, uma palavra de francês, minha mente começou a falar sozinha, como ela  sempre fala muito, só que nestas línguas, e frases soltas, desconexas, sem sentido prático nenhum. Parecia que ela estava treinando, aquecendo para quando tivesse que falar algo numa dessas línguas, mas eu pude perceber isso claramente, como ela fala sozinha sem parar!!! Pareciam também distrações, para não me deixar ficar sozinha totalmente. Foi interessante poder perceber a mente como algo que não sou eu. EU SOU muito mais e além da mente e é muito bom perceber isso. Viva!

Silêncio e amizade

O silêncio é de ouro! Às vezes, durante à noite no jantar ou no albergue, me dava uma vontade de estar no caminho, com o silêncio, com o meu ritmo, sozinha. Mas em outros, estava era querendo conversar com o Beto, estar junto, encontrar os amigos que fomos conhecendo: Peter e Margaret (da Austrália), Gabriele e Uta  (da Alemanha), a professora e sua amiga Veronika (da Alemanha), Raz e Martin ( de Israel e da Polônia, morando na Escócia), Mienke e Jocelyn (da África do Sul)... 

Aprendizados

Algumas lições que aprendemos com o caminho: qual é o mínimo, o essencial para cada um, a cada momento; aprendemos a deixar os amigos para trás, ou para a frente, torcendo para nos encontrarmos em uma próxima parada, algum dia; a andar apesar de: um pouco de dor nas pernas, de 1 bolha, do sol, da chuva, do sono. O nosso corpo ganha uma habilidade de se recuperar de um dia para o outro que é incrível! Aprendemos a dar muito mais valor ao andar com nossas próprias pernas, que é alo delicioso. Algo fica a 5 quilômetros? Vamos andando! Quando chega o fim, chega o fim. Hora de começar a pensar em outra coisa. Mesmo que o nosso fim, dessa vez, tenha sido depois de andar 162 km em 10 dias de caminhada.

Eunates

Este templo no meio do campo é todo especial: octogonal, possibilita que a comunidade sente em roda e seja a principal parte da comunhão espiritual. Que lugar encantado! Parece que ainda está sendo usado, e de fato está, pelos peregrinos que por ali passam e se embriagam com a leveza que paira por ali, a todos inspirando...

Caminho de Santiago de Compostela - amoroso

Encontramos pessoas muito amorosas. As pessoas estão muito abertas, prontas para ajudar aos outros, tanto entre os peregrinos, como os hospitaleiros. As pessoas das cidades também são muito afetuosas.

Bons ventos

Uma surpresa boa foi ver a grande quantidade de moinhos de vento gerando energia eólica. Impressionante! Qualquer montanha mais alta, e lá estão eles. Energia limpa. Alguém sabe se é eficiente? Se dá conta da necessidade de energia da Espanha?

Espanha Agrícola

Nunca imaginei que a Espanha fosse um país tão agrícola! Percorremos a pé 150 km do Caminho de Santiago, o caminho de Madri até o norte e depois de Madri até o sul de trem, e vimos um clima parecido com o cerrado brasileiro, muito seco, e muita plantação de oliveira e parreira. Na Navarra vimos também bastante trigo e outros grãos, que dançavam ao vento. E ninguém! As plantações não dão muito emprego, pelo menos na primavera...

O capítulo da mala

Como fazer uma mala para 10 meses? Esta é uma arte que estamos desenvolvendo. A idéia é que não vamos ter sempre a melhor roupa para cada ocasião, mas precisamos de ao menos 1 roupa mais formal para entrevistas com gerentes das instituições, 1 roupa média para as entrevistas em geral e roupas muito confortáveis e fáceis de lavar e secar para a caminhada, para o dia a dia, etc. Nós escolhemos malas de 55 Litros +10 Litros. Estou orgulhosa de mim mesma! Nos primeiros dias achei que ia faltar roupa, mas sempre se pode comprar uma peça a mais, e esta é uma das graças da coisa toda. Não adianta levar a roupa certa para a Índia, pois lá é o melhor lugar para descobrir e comprar a roupa certa... além de serem lindas e mais baratas por lá.

Preparação

A preparação para o Giro começou 6 meses antes, e se intensificou muito desde o começo de 2009. Reforma, vistos, passagens, milhas, dinheiro, emprestar a casa, comprar roupas e mochilas, organizar toda a vida... 

Nos últimos dias juntava-se à nossa animação e à correria dos últimos dias um sentimento intenso que percebemos:

Ninguém ficava indiferente quando falávamos da viagem. As reações e comentários eram sempre intensos, nada comparável a contar que faríamos uma viagem de férias, por exemplo. Alegria, entusiasmo, apreensão, tristeza, saudades, inveja boa, inveja ruim, vontade declarada de ir junto, apoio incondicional, apoio titubeante-oscilante, nós fomos percebendo todas estas emoções, que iam se somando às nossas. Imagine o tamanho da expectativa, da ansiedade, que buscávamos viver da forma mais calma possível, respirando, indo com calma.

Nossa viagem tem vários objetivos dentro dela:

Uns ligados ao Projeto Desenvolvimento Humano em Foco (veja mais em www.humaninfocus.org),

outros de auto-conhecimento, outros de desenvolver habilidades de meditação, corporais, além de fortalecer os laços do namoro, com novos horizontes, novos sabores, novos desafios. 

Entre outros que sabemos ou nem sabemos ainda!

Uma Volta ao Mundo

Este blog começa com a idéia de compartilhar com os queridos um pouco das impressões que este giro está trazendo. Uma volta ao mundo é o nome da passagem que compramos (eu e o Beto) para esta jornada de 10 meses, e um giro de 360 graus, para depois chegar no lugar de onde partimos, mas que já não será mais o mesmo, nem nós seremos mais os mesmos. A nossa casa está em reforma, e nós também, a cada dia! Fica aqui o convite para trocar idéias.